quinta-feira, 8 de maio de 2008

O jogo -Flávia Dutra


O primeiro era alto, possuia um enorme pescoço e comia de tudo, dos mais finos aos mais grotescos alimentos, embolorado, ressecado, mofado, mal cheiroso. Não se tinha uma analise do que ingeria, apenas engolia tudo que via , seco, umido, pastoso.

A segunda, veloz, astuta e majestral, vive sua vidinha bem vivida de modo a não se importar com o sentimento alheio, passando por cima de todos e os devorando se assim for necessário.

O terceiro pobrezinho, vive a ser humilhado pelos cantos, pois seu próprio nome é tão infeliz, que só de olhar para aquela cara cansada e esmagada e por ser mais um que mal consegue carregar uma bagagem, é chamado de estupído pelos seus colegas mais espertos.

A quarta é livre, depois da transformação que sofreu em sua talvez adolescência para a vida adulta, sente-se voando pelos ares e espalhando beleza e alegria aos olhos daqueles que a admiram por seu brilho e suas cores.

O seguinte acreditam ser o mais leal entre todos, subserviente ao extremo, deixando de lado suas próprias angustias e seu orgulho e auto respeito para agradar aquele que ele acredita ser seu chefe ou quem sabe até seu dono, mesmo em tempos que a Lei Auréa já vigorou.

Os dois próximos, um pouco sem identidade, porque os mais leigos, ou aqueles que acabaram de chegar, não sabem ao certo quem é um e quem é outro. Só sabem a sua função, e os berros que dão quando se sente tristonhos ou até mesmo injustiçados, porque só ligam para o produto que eles cedem e não por seus olhos mareados de anjos renegados.

Temos também aquele que parece que vive em um deserto, porque vive a mostrar os braços e as costas sobresalentes.

Aquela pessonhenta que chega sempre com veneno na lingua, falsa, falsissima, quando você menos esperar ela pode te torturar e até quem sabe acabar com sua existência.

O que tem muitos filhos e se lamenta pelos cantos por não conseguir dar conta de todos, o brilhante que sempre sabe o que faz, está bem vestido e e superestimado, o que é grande mas não tem coragem diante até dos mais pequenos, o que gosta de contar vantagem, o bonitão independente que só pensa em si próprio, aquele que vive reclamando que arrancam o coro dele.

Tem o maioral, aquele que todos respeitam devido a uma hierarquia imposta não sei por quem e não sei por que. Aquele desprovido de beleza mas que tem uma inteligência que ganha todos aqueles que o cercam.

O que não limpa nada, deixa tudo sujo e acha que todos são obrigados a conviver com seu desleixo, sem contar a comida que come que cheira tão mal quanto ele.

Aquele que acha que é virado pra lua e que consegue qualquer coisa com seu talento, o que não gosta de festas de final de ano, por um trauma inexplicavel, talvez algum caso mal resolvido de familia. O primo daquele citado acima que é independente, porem muito mais agressivo. O dorminhoco que tem fases que não quer trabalhar de jeito nenhum.

Aquele que é motivo de chacota de todos devido a sua opção sexual diferenciada e aquela que mesmo com filhos em casa cheirando a leite joga seu charme para todos, sem se preocupar com seu marido que com certeza vive coçando a testa.Essa é uma descrição do jogo que acontece diariamente em uma empresa qualquer, de uma cidade qualquer, de um país qualquer. Qualquer semelhança com outro jogo não é mera coincidência.

Deu homem na cabeça.

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